sábado, 25 de abril de 2009

Análise do poema "Adormecida", de Castro Alves

Adormecida

Uma noite, eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberta o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço do tapete rente.

‘Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, um pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmulos – beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despeitada a meio,
P’ra não zangá-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
“Ó flor! – tu és a virgem das campinas!
“Virgem! – tu és a flor da minha vida!...”

Na 1ª estrofe o poeta cria através da percepção subjetiva (“EU” lírico) a imagem da mulher amada. Ela é construída por uma visão de sensualidade através do uso dos adjetivos (encostada molemente, quase aberto, solto, descalço). Enquanto que os elementos noite, rede, roupão, cabelo e tapete, criam o ambiente íntimo desta mulher, sugerindo a cumplicidade da intimidade e a proximidade dele e da amada.
Na 3ª estrofe o poeta utiliza elementos da natureza para insinuar o clima de sensualidade e encantamento que eleva essa mulher.
Na 3ª e 4ª estrofe, ao personificar os elementos da natureza (galhos encurvados / indiscretos entravam pela sala.../ Iam na face trêmulos beijá-la.) e colocá-los em contato físico com a amada o poeta constrói uma cena de sensualidade e desempenho amoroso.
A utilização repetitiva de versos no pretérito imperfeito (estremecia / serenava / beijava) e a utilização das reticências cria um clima de erotismo recatado pela interação e troca contínua de afagos entre a moça e a flor.
Na 5ª estrofe, o poeta infantiliza a amada dando a ela um caráter virginal (criança / negras tranças).
Na 6ª estrofe, ele retoma o caráter erótico pelo contato físico da natureza com essa mulher.
Na última estrofe subjetivamente o poeta mantém uma postura típica do lirismo platônico e com muita sensibilidade enaltece o caráter virginal da amada.

17 comentários:

  1. Quantas sílabas poétias.???

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  2. adorei naõ, amei essa análise sobre a poesia de Castro AlVes ...
    Parabéns muito bem feita

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  3. Achei muito bem feita, porém devemos levar em conta o que está implícito no poema. Em um poema as palavras não são o que parecem, o sono revelado no poema se refere a morte, o eu poético não é a mulher e sim o homem que a ama.

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  4. amei, me ajudou muito com um trabalho, obrigada !

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  5. Muito bom, irá me ajudar para uma prova que tenho amanhã!

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  6. valeu.. vou da ctrl+c e ctrl+v.
    e entregar amanha

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  7. Qual figura de linguagem usada na 3 estrofe

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  8. Ótima análise, muito grata à você!
    Esta obra está presente no conteúdo programático de um vestibular que em breve prestarei.

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  9. Qual é a contribuição da brisa na cena descrita no poema

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  10. Qual a figura de linguagem usado em relação a natureza nesse poema ?

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