quarta-feira, 22 de abril de 2009

Impressões da novela O Barão, de Branquinho da Fonseca

Continuando pelas divagações do ser, lembrei-me desta narrativa portuguesa. Escrevi este ensaio em 2004. Ontem, a obra do escritor português aflorou em minha memória, após reflexões sobre essência, desdobramentos de personalidade e máscaras que usamos para a sociedade. A rotina diária nos faz esquecer da necessidade do mergulho introspectivo, da conversa com o ser essencial que nos habita e a possibilidade de renovação em nossas vidas.


O Barão apresenta-se como um ser rústico, regional, porém com o desenrolar da narrativa torna-se grandioso na sua universalidade. Da mesma forma o inspetor, pois a aristocracia falida (o Barão) e o pequeno-burguês (o inspetor) acomodado na sua posição de funcionário público estável, sem surpresas na sua vidinha monótona e sem crescimento ou mudanças encontra-se em qualquer lugar do mundo.
Essa obra tida como uma das máximas da moderna narrativa portuguesa, nos remeteu a um mundo um pouco diferente que encontramos em “Confissão de Lúcio” de Sá-Carneiro, totalmente simbólico, introspectivo sem ligação com o plano real. O Barão nos faz tomar um choque no final, pois o que aconteceu foi ligado ao plano físico. Sá-Carneiro levou-me a dispersão e visualizar os desdobramentos da sua personalidade em um plano totalmente abstrato.
O despertar súbito na parte final da narrativa deve-se ao divagar a que somos levados junto ao Barão e do inspetor. Essa trama é muito envolvente. Houve uma projeção, uma transposição de ambiente e conseguimos nos situar bem ao lado das personagens, dentro daquele palácio ou perdidos naquela escuridão assustadora (símbolo da solidão humana). Invadimos aquele castelo e mergulhamos nas sensações que ambos saboreavam.
As figuras dicotômicas do Barão e do inspetor permite-nos visualizar o quanto o ser humano é controverso na relação: aparência para a sociedade e sua essencialidade.
A obra aborda as características do presencismo como a originalidade, pois nada havia sido feito como o Barão, a marca da autenticidade das personagens deflagrada pelo álcool e a presença da realidade concreta, sempre no espaço da sala de jantar e o acidente real do Barão, que consta na última página do livro, o qual nos acorda para o plano concreto e chega a nos causar um impacto.Na ocasião divagávamos nas profundezas do ser essencial, esse abismo que mergulhamos junto com as personagens.
Esse período literário é gratificante, a progressão do Simbolismo para o Orfismo e posteriormente o Presencismo trata-se de algo maravilhoso na literatura, a descoberta do ser humano, o que lhe é intrínseco, as entranhas psicológicas, o mistério do homem, que na maioria das vezes não conseguimos desvendar.
O humanizar característica marcante da obra, nos dá uma propensão à reflexão, para nos analisarmos, procurando o conhecimento do que realmente somos juntamente com o meio social em que estamos inseridos.
Temos a impressão que quantas leituras fizermos da obra, novos direcionamentos de interpretações podemos obter da narrativa, possibilidades de leituras infindas, no âmbito social, histórico, estrutural, poético.

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